Aos 29 anos, 6 meses e 14 dias, dei adeus à miopia e ao astigmatismo, que me acompanhavam desde que eu me entendo por gente. Ao todo, eram 7 graus no olho direito e 6,5 no esquerdo.
Foram anos e anos procurando os óculos às apalpadelas, não enxergando o relógio no meio da noite e vendo tudo embaçado sem o meu fundo de garrafa.
Mas hoje isso mudou, resolvi fazer a tão sonhada cirurgia refrativa. A ideia toda foi meio de improviso, não estava pensando em operação. Mas, como uma coisa leva à outra, quando dei por mim, já tinha marcado a data para entrar na faca.
Os momentos que antecedem a cirurgia são tensos e angustiantes. A gente pensa, será que vou ficar cega? Será que vão furar meu olho? Dá vontade de dizer, “Não dotô, não fura meu ôio não!!!”
Mas a gente acaba não dizendo nada e passa por corajoso.
No entanto, como na minha vida nada é muito como manda o figurino, na minha vez, é lógico que a máquina tinha que dar problema. Estou lá eu, deitadona na maca, toda apreensiva, depois de receber algumas gotinhas de um colírio anestésico, quando me empurram pra baixo de um trambolho bege e me mandam olhar para a luz.
Vá para a luuuuuuuz, vá para a luuuuuuuz!
Era uma luz piscante, laranja-avermelhada. Piscava num ritmo enervante. Neste momento, me enfiaram no olho um arregalador de olhos, para eu não piscar enquanto o laser fazia o seu trabalho.
Muito bem, estou eu lá com meu lindo olho castanho esbugalhado, quando descubro que a máquina está com problemas: o laser não está calibrado como deveria (será que é um pneu???). Tiraram-me debaixo do trambolho e disseram: só um momento, pois temos de recalibrar o laser.
Quê? Bem na minha vez? Tinha que ser o Chaves, mesmo!
Enquanto calibravam o tal do laser, o trambolho bege soltou vários uivos estranhos, me assustando mais ainda, até que me informaram: Pronto, chegou a hora!
Pensei, é agora que eu me lasco!
Lá me empurraram de novo pra baixo do troço, esbugalharam meu olho esquerdo novamente, passaram umas espátulas com alguns produtos, acredito que esterilizantes, no olho e me mandaram olhar fixamente para a luz.
Ai, que medo de mexer o olho!
E começou aquela barulheira. Ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta. A vista vai ficando enevoada, fica cada vez mais difícil de ver a luz, até que só se sente um cheirão de queimado...
Churrasquinho de Patricia, pensei.
Depois da catinga a la churrasquinho de gato, passaram mais um produto e colocaram uma lente protetora. Começou então a preparação do olho direito.
Ai, tudo outra vez! Mais churrasquinho!
Antes da saga no olho direito, escutei uma voz feminina exclamar algo parecido com “Noooossa!” Realmente, pareceu que tinha dado algo errado, mas continuaram assim mesmo.
No final de tudo, o médico me disse que tinha dado tudo certo, não sei se acreditei, mas agora era tarde e Inês já era morta... Só sei que não doeu nadinha e foi muito rápido, o procedimento não dura mais do que cinco minutos. O medo inicial não tinha mesmo razão de ser. Já saí da maca enxergando, muito mais do que quando havia deitado. É uma diferença impressionante.
Saí um pouco tonta, é verdade, mas isso logo passou e comecei a ficar eufórica por, mesmo embaçado, conseguir enxergar mais do que sempre enxerguei.
A técnica utilizada foi uma tal de PRK, que tem o pós-operatório um pouco mais desconfortável do que sua prima, LASIK, mas que nem é tão ruim assim. Ainda não posso ler nem forçar muito a vista, pois dói um pouquinho, mas já consigo distinguir objetos antes irreconhecíveis. Agora, preciso ficar três dias na escuridão, e sempre de óculos escuros. Acho que nunca fiquei tanto de óculos escuros quanto hoje e provavelmente as semanas que virão.
Amanhã é dia de voltar ao consultório para ver o resultado. Parece que, de agora em diante, abandonarei meu fundo de garrafa e, de cinco olhos, passarei a ter só três.
Boa sorte pra mim!!!
P.S.: quem escreveu isto fui eu, Luizpédia, já que a dona do blog não pode nem olhar para monitores durante estes dias de escuridão total. Ela ia ditando e eu ia escrevendo.