segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

E essa tal de Metafísica...

(Debaixo da chuva torrencial de São Paulo)

Metafísica é um ramo da Filosofia que estuda a essência do mundo, que busca os princípios e as causas fundamentais de tudo, tratando de questões que, em geral, não podem ser confirmadas pela experiência direta. Podemos até dizer que a Metafísica é o estudo da realidade. As perguntas que ela tenta responder são: o que é real?; o que é natural?; o que é sobrenatural?; o que é verdade? e afins. Willian James (psicólogo e filósofo norte-americano, 1842/1910), definiu a Metafísica como "apenas um esforço extraordinariamente obstinado para pensar com clareza". Mas aí, o que é pensar com clareza? Alguém sabe?

Pois é, difícil definir isso, mas segundo dizem os entendidos no assunto, a Metafísica não se interessa pelos "comos" da vida (como se faz isso, como se faz aquilo), e sim pelos "porquês" existenciais, pelas questões que podem facilmente jamais ser formuladas durante uma vida inteira. É diante desse conceito que os metafísicos entendem ser provavelmente válido afirmar que o fruto do pensamento metafísico não é o conhecimento, mas o entendimento.

Até aí tudo bem, mas qual é a origem da palavra "Metafísica"? Para descobrirmos sua origem, teremos que voltar há anos e anos antes de Cristo, alí entre 384 a.C. e 322 a.C, na época em que aquele rapaz, o Aristóteles, era vivo. Pois é, conta a lenda que a origem da palavra "Metafísica" é atribuída a Aristóteles e Andrônico de Rodes.

Veja só que interessante, na verdade Aristóteles nunca utilizou essa palavra, nunquinha, mas escreveu temas relacionados a physis (física)¹, e sobre temas relacionados à ética e à política, entre outros. Aí, Andrônico, como bom homem metódico que era, ao organizar os escritos de Aristóteles, o fez de maneira a distinguir os dois temas, fazendo com que os relacionados com physis viessem antes dos outros. Assim, esses outros assuntos vinham além da física (meta = depois, physis = física), atribuindo a Metafísica a algo intocável, que só existe no mundo das ideias, ou seja, tudo que transcende a física.
_____________________
¹ Segundo os filósofos pré-socráticos, é a matéria que é fundamento eterno de todas as coisas e confere unidade e permanência ao Universo, o qual, na sua aparência é múltiplo, mutável e transitório.

Pois bem, agora evoluindo ainda mais na história, vê-se que a Metafísica nunca foi uma ciência tranquila, isso porque Aristóteles examinou a natureza do ser em geral e não de suas formas particulares, postulando a ideia de deus como substância fundamental. Já Platão entendia que a Filosofia era a única ciência capaz de atingir o verdadeiro conhecimento, e que por meio da dialética o filósofo aproximava-se das ideias puras, como a verdade, a beleza, o bem e a justiça.

Então na Idade Média, a Metafísica confundiu-se com a teologia, e é nesse contexto que Tomás de Aquino afirmou que a Metafísica estudava a causa primeira, e, como a causa primeira era deus, deus era o objeto da Metafísica (silogismo puro e simples, que pode, ou não, partir de premissas verdadeiras).

Depois disso, na Idade Moderna, a experiência passa a ser extremamente valorizada e a Metafísica, com deus como objeto, deixa de ser considerada a base do conhecimento filosófico. A partir de então, David Hume disse que o homem estava completamente submetido aos sentidos, portanto, não poderia criar ideias, não sendo possível formular nenhuma teoria geral da realidade. Para ele, ciência alguma seria capaz de atingir a verdade, sendo seus conhecimentos sempre probabilidades, e apenas isso.

No século XVIII, Immanuel Kant afirmou que o domínio da razão e o rigor científico poderiam recriar a Metafísica como conjunto dos conhecimentos provenientes apenas da razão, sem utilizar dados da experiência. Nesse sentido, a Metafísica de Kant reduzia-se ao estudo das condições e limites do conhecimento, sem vinculação à ideia de deus como substância fundamental.

Já no século XIX, o positivismo de Augusto Comte colocou a Metafísica como uma ciência superada. Segundo ele, a história da humanidade (e, por analogia, o conhecimento humano), passou por três períodos: o teológico, o metafísico e o positivo, ou científico, sendo que este último seria considerado superior aos anteriores.

Aí no século XX, o filósofo Martin Heidegger fez uma revisão da história da Metafísica e sustentou que ela confundia o estudo do ser, o verdadeiro objeto da filosofia, com outros temas, como a ideia, a natureza, deus e a razão, motivo pelo qual tais equívocos deveriam ser superados.

Assim, vemos que a Metafísica em si, como entendida atualmente, nada tem a ver com religião, o que não impede sua influência nos preceitos religiosos. A exemplo disso podemos citar que caso a teoria metafísica do materialismo fosse verdadeira, sendo um fato que o homem não tem alma, então grande parte da religião sucumbiria, demonstrando assim a influência da Metafísica na religião.

Veja que embora a Metafísica seja sim o estudo da essência do mundo, não podemos dizer que ela explique os preceitos religiosos, que, na verdade, não possuem vinculação direta com os conhecimentos metafísicos, tais quais como hoje conhecidos. A religião pode até se utilizar confortavelmente de algumas "verdades" metafísicas, mas a recíproca não é verdadeira.

Assim, explicar que tal coisa é como é porque deus o quis assim, não explica nada, e jamais poderá ser classificado como um exercício metafísico, como alguns pretendem afirmar, sendo, quando muito, uma forma preguiçosa de explicar algo sem bases sólidas.

O que já nos leva a outros assuntos que agora estou com preguiça de escrever... mas enfim, o que eu queria mesmo era desvincular a metafísica da religião, que são coisas completamente distintas, mas que constantemente são confundidas pelos incautos do caminho... que têm todo o direito de discordar disso... que fique bem claro...

E por hoje é só...

PS. Algumas palavras foram grafadas com letras minúsculas de propósito.



.

Um comentário:

O sonho de uma sombra disse...

Caramba...

Mas é verdade, a gente escuta várias vezes pessoas usando "metafísico" quando, na verdade, querem dizer "místico"...

Pena que a filosofia velha de guerra seja tão pouco compreendida, e prefira-se buscar a sabedoria, a felicidade e a salvação na auto-ajuda, na psicologia barata ou em auxílios descaradamente religiosos.

Parte é culpa dos próprios filósofos, que muitas vezes não se expõem claramente, ao contrário do seu post!

Parabéns

(acho que esse comentário vai acabar virando um post também hehehehe)

peridum

Related Posts with Thumbnails