terça-feira, 23 de outubro de 2018

Darcy Ribeiro já explicou, amiguinhos...

"O
 espantoso
 é 
que 
os 
brasileiros,
 orgulhosos
 de 
sua 
tão 
proclamada, como 
falsa,
"democracia
 racial", raramente percebem os profundos abismos que aqui separam os estratos sociais.

O
 mais
 grave
 é
 que
 esse
 abismo
 não
 conduz
 a
 conflitos
 tendentes a 
transpô‐lo,
 porque
 se
 cristalizam
 num
 modus vivendi
 que
 aparta
 os
 ricos dos pobres, como se fossem castas e guetos. Os
 privilegiados
simplesmente 
se
 isolam
 numa
 barreira
 de
 indiferença
 para
 com
 a
 sina
 dos
 pobres,
 cuja 
miséria
 repugnante
 procuram
 ignorar
 ou
 ocultar
 numa
 espécie
 de 
miopia social,
 que
 perpetua 
a 
alternidade.
 O
 povo‐massa,
 sofrido 
e
 perplexo,
 vê 
a ordem social
 como
 um
 sistema
 sagrado
 que
 privilegia
 uma
 minoria 
contemplada
 por
 Deus,
 à
 qual
 tudo
 é
 consentido
 e
 concedido.
 Inclusive
 o 
dom
 de
 serem,
 às
 vezes,
 dadivosos,
 mas
 sempre
 frios
 e
 perversos
 e, invariavelmente,
 imprevisíveis. 
(...)

Nessas
 condições
 de
 distanciamento
 social,
 a
 amargura
 provocada
 pela exacerbação
 do
 preconceito
 classista
 e
 pela
 consciência
 emergente
 da
 injustiça bem
 pode
 eclodir,
 amanhã,
 em
 convulsões
 anárquicas
 que
 conflagrem
 toda
 a
 sociedade.
 Esse
 risco
 sempre
 presente
 é
 que
 explica a preocupação obsessiva que tiveram as
 classes 
dominantes 
pela
manutenção da
 ordem.
 Sintoma
 peremptório
 de
 que
 elas
 sabem
 muito
 bem
 que
 isso
 pode 
suceder, caso se abram as válvulas de contenção. Daí
 suas
"revoluções preventivas",
 conducentes
 a
 ditaduras
 vistas
 como
 um
 mal
 menor
 que qualquer 
remendo
 na 
ordem
vigente."

Trecho de O POVO BRASILEIRO – Darcy Ribeiro


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