"O
espantoso
é
que
os
brasileiros,
orgulhosos
de
sua
tão
proclamada, como
falsa,
"democracia
racial", raramente percebem os profundos abismos que aqui separam os estratos sociais.
O
mais
grave
é
que
esse
abismo
não
conduz
a
conflitos
tendentes a
transpô‐lo,
porque
se
cristalizam
num
modus
vivendi
que
aparta
os
ricos dos pobres, como se fossem castas e guetos. Os
privilegiados
simplesmente
se
isolam
numa
barreira
de
indiferença
para
com
a
sina
dos
pobres,
cuja
miséria
repugnante
procuram
ignorar
ou
ocultar
numa
espécie
de
miopia social,
que
perpetua
a
alternidade.
O
povo‐massa,
sofrido
e
perplexo,
vê
a ordem social
como
um
sistema
sagrado
que
privilegia
uma
minoria
contemplada
por
Deus,
à
qual
tudo
é
consentido
e
concedido.
Inclusive
o
dom
de
serem,
às
vezes,
dadivosos,
mas
sempre
frios
e
perversos
e, invariavelmente,
imprevisíveis.
(...)
Nessas
condições
de
distanciamento
social,
a
amargura
provocada
pela exacerbação
do
preconceito
classista
e
pela
consciência
emergente
da
injustiça bem
pode
eclodir,
amanhã,
em
convulsões
anárquicas
que
conflagrem
toda
a
sociedade.
Esse
risco
sempre
presente
é
que
explica a preocupação obsessiva que tiveram as
classes
dominantes
pela
manutenção da
ordem.
Sintoma
peremptório
de
que
elas
sabem
muito
bem
que
isso
pode
suceder, caso se abram as válvulas de contenção. Daí
suas
"revoluções preventivas",
conducentes
a
ditaduras
vistas
como
um
mal
menor
que qualquer
remendo
na
ordem
vigente."
Trecho de O POVO BRASILEIRO – Darcy Ribeiro
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