domingo, 7 de novembro de 2010

A intrépida Ravenguinha - parte #1

Era uma vez, uma destemida e amorosa garotinha de cabelos parecidos com o do Ravengar chamada Antígona. Ela era filha de Édipo, assassino incestuoso, e de sua própria avó, Jocasta, a fogosa rainha de Tebas.

Nascida numa família, no mínimo, conturbada, Antígona tinha tudo para ser uma jovem tresloucada, mas não, ela seguia contente e serelepe ao lado de seus três irmãos, Etéocles, Ismênia e Polinice.

É bem verdade que os irmãos às vezes se estapeavam, mas nada fora do normal, uma briguinha aqui pela barbie sem cabeça, outra ali pelo incêndio na casinha de bonecas, outra acolá pelo arremesso das rodas do caminhãozinho de brinquedo pela janela, algumas garfadas por causa de assaltos de batatas-fritas, mas nada sério, somente briguinhas fraternais.

Na adolescência, ela gostava de ouvir Luiz Caldas, Amado Batista, Beto Barbosa e Kaoma, usava mini-saia rodada laranja e centenas de pulseiras barulhentas nos pulsos. Quando ela andava, fazia um barulho parecido com o de uma vaquinha leiteira, tirilililó, tirilililó, tirilililó... Seu apelido era Ravenguinha.

O pai dela, Édipo (Diponga para os íntimos), após conseguir derrotar a monstruosa esfinge que assombrava a cidade de Tebas matando os forasteiros que não conseguiam responder aos seus ridículos enigmas, tornou-se Rei da cidade e ganhou de lambuja a mão da fogosa Jocasta, que, por acaso, era sua mãe. Muitos anos se passaram sem que ele soubesse que sua esposa era na verdade sua adorada mãezinha.

Ele não sabia de sua origem, pois foi abandonado quando criança. Tudo aconteceu pois quando ele nasceu, a família Labdácias foi assolada por uma terrível maldição: o bambino nascido deste casório mataria o próprio pai e desposaria a própria mãe.

Quem deu essa notícia ao serelepe casal foi o cegueta Tirésias Mercado (Ligue jiá), um vidente meio charlatão, mas que acertava vez ou outra.

Sabendo da desgraça anunciada, e não querendo correr o risco, Laio e Jocasta (guardem esses nomes) trataram de abandonar o pequeno Diponga bem longe, num lugar chamado Monte Citerão.

Pois bem, muitos anos se passaram, Diponga derrotou a esfinge, ganhou a mão de Jocásia, e tudo corria feliz. Ocorre que, enquanto esta parte de seu passado continuava oculta, o agora Rei Édipo (Diponga para os íntimos), praticava peripécias nupciais com sua assanhada Jocasta... os rebentos foram nascendo, chorando, crescendo... as coisas foram mudando, os antigos discos de vinil foram trocados por pequenos e brilhosos cds, vieram os cabelos brancos, aquela coisarada toda.

A vida ia muito bem até o dia em que a cidade foi assolada pela peste. Os súditos do reino estavam empestiados ao som de Raul Seixas, "Tá todo mundo louco, oba! Tá todo mundo, oba! Tube ri din din, din diiiiinnnn", era um horror, o verdadeiro caos!

O pai de Ravenguinha, homem que acreditava em espiritismo e ciências ocultas, pediu para seu cunhado, o sisudo Creonte, consultar o oráculo da cidade. Na volta, Creonte informou-lhe que para acabar com aquela "pestarama" toda, seria necessário encontrar e banir da cidade o assassino do antigo rei de Tebas, o bêbado Laio, que por ironia do destino (e bota ironia nisso), era o verdadeiro pai de Diponga, e que, mais ironicamente ainda (porque desgraça pouca é bobagem...), havia sido assassinado pelo próprio Diponga à bengaladas dias antes dele derrotar a esfinge enigmática de Tebas.

O problema todo era que o violento Diponga não sabia que aquele cara que ele havia matado por causa de uma cretina discussão futebolística acerca dos dons divinos do cacheado Valderrama no bar do Zé Bedeu era, na verdade, seu pai, o caçhaceiro Laio, antigo Rei de Tebas, que lá no começo da história o havia abandonado, junto com Jocásia, por causa daquela maldição de que o filho deles mataria o próprio pai e desposaria a própria mãe.

Então, para descobrir a identidade do assassino, Diponga mandou chamar o cegueta charlatão, Tirésias Mercado (Ligue jiá), que contou toda a verdade, revelando que ele tinha assassinado seu pai e que tirava casquinhas de sua mãe... (dessa vez ele acertou de novo). A Corte ficou alarmada e Diponga foi cozido em sua própria culpa.

No meio de todo esse escândalo, Jocasta, a rainha-socialite que vivia em destaque na mídia e que adorava passear no Castelo de Karras, não pôde suportar a humilhação de ser amante de seu próprio filho e suicidou-se enforcada com o cadarço verde fluorescente do tênis estilo emo de seu filho.

Diponga, ao ver sua mãe-esposa enforcada, furou seus próprios olhos com os colchetes bijoux do vestido da rainha socialite. Foi um pandemônio!

Os dois herdeiros, Eteócles (encrenqueiro de carteirinha) e Polinice (emo, obeso mórbido, dono do cadarço), expulsaram o pai da cidade, que triste, abatido, humilhado e cego, partiu para o exílio na zona leste de Atenas, guiado pela sósia do Ravengar, sua amada filha.

Ravenguinha acompanhou seu pai até seus últimos dias, quando, levado pela dengue, foi enterrado num caixão de papelão no cemitério do Araxá. Muito abatida e totalmente esquecida da existência de chapinhas e cremes domadores de cachos, Antígona voltou para Tebas e encontrou seus irmãos se estapeando pelo trono.

Não percam as cenas dos próximos capítulos...




3 comentários:

Anônimo disse...

Zeus deve estar fulo com você, onde já se viu ficar contando os podres da alta sociedade grega.

O sonho de uma sombra disse...

Ravenguinha, Ravenguinha,
Ravenguinha de Jesus
não sei se tu me amas
pra que tu me seduz?

Estou aguardando a volta da intrépida Ravenguinha!

Até o Sófocles está curioso para saber o final da história!

dausla

Filosofia dos Desvairados disse...

Tú escreves bem. Que raiva, que inveja!!!, eu vou moreeeeeeeeee!!!, ris....

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