domingo, 19 de dezembro de 2010

E a Guerra Civil Espanhola, alguém sabe o que aconteceu?

A república espanhola surgiu a partir da queda da monarquia, que hoje é uma espécie de figura decorativa no país. Por causa da crise econômica que assolava o mundo no início do século XX, a situação por lá não era das mais confortáveis.

Na verdade, de confortável não tinha nada. Era o caos, greves, combates de rua e excessos anticlericais da Frente Popular de esquerda aconteciam a todo momento. O general Franco, militar antirepublicano, que nesta época estava no Marrocos, decidiu que era hora de agir. Assim, colocou sua farda fascista, inflamou suas tropas e, com ajuda da Alemanha e Itália, invadiu a Espanha ocupando metade do país.

Seu objetivo era chegar em Madrid, o que lá pela segunda metade da década de 30, sem os carros potentes de hoje em dia, devia ser bem complicado. Franquinho até que estava indo bem, porém, ele não contava com a astúcia de quem? De quem? De quem??? Do Chapolin Colorado??? Nãooooo... Dos soviééééticos, que cortaram o seu barato. 

Os populares amedrontados notaram que as forças republicanas da época eram uma verdadeira piada. Por isso, resolveram fazer algo contra o fascismo. Montaram comitês locais de defesa dos próprios operários e camponeses, que tinham como líderes anarquistas, socialistas ou comunistas, dependendo da região.


Devia mesmo ser no mínimo interessante ver toda essa movimentação. 

Mas acontece que os comitês começaram a exagerar na dose, assassinando violentamente tudo o que passava pela frente, sob a desculpa de serem todos seus opositores. Eles espalhavam medo e terror por onde quer que passassem, aterrorizando principalmente as igrejas (*).

Com essa bagunça toda, enquanto a barbárie se intensificava, o governo liberal da época foi substituído pela coalizão social-comunista. Até o poeta García Lorca foi vítima deste descontrole nacional. 

A primeira parte do século XX realmente foi uma época conturbada. Por isso, os imigrantes, intelectuais, democratas e literatos ocidentais, frustrados pela impotência da democracia diante de Hitler e Mussolini, vislumbraram aí uma oportunidade de combater o fascismo pessoalmente, ingressando nas brigadas internacionais apoiadas pelos republicanos.

A história sobre a Guerra Civil Espanhola relata a crueldade da epopéia antifascista, repleta de mortes, torturas, medo, diversidade, idealismo e amor pela Espanha.

Um dos livros mais famosos sobre o assunto foi o romance de Ernest Hemingway, Por quem os sinos dobram, que eu ainda não li, mas que está na minha lista há muito tempo.

Franco, no final, ganhou a guerra com a ajuda da Alemanha e da Itália. Os Alemães eram os mais entusiasmados, fornecendo uma première de horror e desolação, da qual eles mesmos foram vítimas um tempinho depois, no final da 2ª Guerra Mundial, em escala milhões de vezes maior.

Os Alemães, simpáticos como eles só, bombardearam a cidade basca de Guernica somente para que seus pilotos adquirissem um pouco de experiência prática... afinal, só na teoria ninguém aprende nada, não é mesmo???

Picasso, impressionado pelo ocorrido, documentou essa atrocidade no quadro Guernica


Meu pai ainda não era nascido nesta época, ele veio ao mundo bem no finalzinho da 2ª Grande Guerra e diz que a comida européia do período era muita batata, repolho e ovo... : (
   

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Nos tempos do professor Tibúrcio...

Há tempos não entrava no tal do Twitter para ler todas aquelas mensagens de até 140 caracteres. Mas essa semana resolvi ler e encontrei algo que mereceu um post...

Li a seguinte afirmação, cuja autoria decidi não revelar:
"Acho infinitamente melhor ser criança hoje do que na minha época, na dos meus pais ou dos meus avós. Sem comparação!"
Pois é, ser criança nos dias de hoje deve mesmo ser melhor do que na nossa época, na época de nossos pais e dos nossos avós, pois é tanta liberdade que as crinças hoje podem bater nos professores, dar facadas nos coleguinhas, levar arma de fogo na hora do recreio e ninguém acha que é o fim dos tempos...

Deve mesmo ser melhor crescer nos dias de hoje, quando se tem tanta variadade de brinquedos que não se sabe dar valor ao que se tem... quando as crianças recebem aquela lembrança, olham pra tua cara, não falam obrigado e abandonam o brinquedo 2 segundos após.

Definitivamente, é melhor ser criança hoje, pois os pais, não querendo a preocupação de educar uma alma nova, deixam o bambino 15 horas por dia na frente do Nitendo Wiiiiiii ou do computador.

É absolutamente correto afirmar que é melhor ser criança hoje, quando esses pequeninos sequer sabem o que é respeito aos mais velhos!!!

É mesmo muito melhor ser criança hoje, quando ninguém brinca mais na rua, é perigoso! Pega-pega, esconde-esconde, queimada, barra-manteiga, roba-monte, roba-bigode, taco, vôlei, mês, sela, patins e mais tantas outras brincadeiras estão sendo esquecidas para dar lugar a nintendos, guitar-heroes, psp's e sei lá mais o quê. As crianças presas dentro de casa com seus brinquedinhos particulares, sozinhas, individualistas, egoístas e desatentas.

Ele deve ter razão quando diz que é melhor ser criança hoje, quando pais negligentes fazem todas as vontades do bambino só para se livrar da responsabilidade de dizer não e presenciar aquele ataque de choro ou de fúria dos pequenos chantagistas. "Dá logo o que ele quer, assim ele não chora e eu fico feliz por mais 5 minutos".

Educar pra quê??? Se é mais fácil comprar o silêncio!!!.

É, acho que o autor daquela frase sabe mesmo muito bem o que está dizendo!!!




domingo, 12 de dezembro de 2010

Diário de Bordo Humorista... Deixando os alemães... Encontrando os franceses...

Gente!!!! Essa semana eu achei uma parte do meu diário de bordo... Foi o relato fiel do dia em que me mudei da Alemanha para a França... Eu nem lembrava que tinha escrito isso, quando vi, nem acreditei... Quase caí de dar risada...

Para vocês entenderem, eu fiz minha mudança em março de 2008, num ônibus de viagem, foram mais de 19 horas sentada... aconteceram coisas hilárias...

A título de esclarecimento, vai a legenda: Os "Back Street Humoristas" são os amigos que deixei em solo alemão: Srdjan (o nome dele é assim mesmo, ele é da Sérvia), Pedrinho, Jujú e Clara. A bailarina é uma brasileira que conheci em Düsseldorf e que dança no balé da cidade. Guitarrista desafinada sou eu. Marrocano é marroquino. Dom é a enorme categral de Köln (Colônia). Feuerwehr é bombeiro em alemão e Autobahn é estrada... e acho que isso é tudo... 

Pois bem, e assim foi o meu relato:

Pedrinho:verde;Jujú:azul;Clara:vermelho;Srdjan:preto;e eu
Na hora da partida começou o meu calvário... os “Back Street Humoristas” preocupados com a possibilidade da guitarrista desafinada mudar de idéia. Suor escorrendo pelos colarinhos e eles pensando, rezando, suplicando: “Será que ela vai mesmo?!? Será que existe o perigo dela voltar?!?”.

Calma, amiguinhos... Não será necessário fazer novenas, pedir milagres para Santo Expedito, ir a terreiros de macumba, nem fazer despachos... Eu fui mesmo!!!

Primeira parada: Köln para trocar de balaio. Mas que lixo de Rodoviária, nem me atrevi a sentar nos minúsculos banquinhos laranja, por medo de contrair a febre amarela, a febre verde, a febre roxa ou o que podia ser pior, a febre laranja!!!

Sei lá, né?!? Cada dia aparece uma doença nova... Deus que me livre!!!

Enquanto eu divagava com a possibilidade de contrair a peste negra, passaram-se infinitos 50 minutos. De onde eu estava só conseguia avistar a pontinha do Dom e sentir meu pé doendo por causa da minha maldita bota de €4,95. Isso que dá ser chique, a bota parece que está mastigando o seu pé!!!

Bem, voltamos para o balaio e como num ônibus de viagem não existe nada melhor do que dormir para esquecer a situação decadente em que se encontra, todo mundo começou a se arrumar nas cadeiras, esticar as pernas (na medida do possível), improvisar travesseiros e por aí vai... Como não sou exceção, eu também.

Estou eu lá, pensando na morte da bezerra quando, de repente, não mais que de repente, alguém solta um discreto “pum”... ai, ai, ai... Com certeza o elemento deve ter comido um leitão inteiro no dia anterior... Que fedô!!! Em meio àquele cheiro de urubu em estado de putrefação eu pensei: “Ai meu Deus!!! Agora é o meu fim!!! E a catinga aumentando... Então, já tonta e em completo desespero supliquei: “Oh! E agora, quem poderá me ajudar???”

Esperei, esperei e nada do Chapolin Colorado chegar com a máscara de gás... que decepção!!!!

Poxa! Tinha que colocar uma rolha na retaguarda do indivíduo. Será que esse elemento não tem mais pregas??? Pelas barbas do profeta!!! Isso é um perigo, pode matar uma pessoa.

Juro, eu já queria declarar a 3ª. Guerra Mundial e trucidar todo mundo naquele ônibus... Mas será o Benedito???

Depois que aquele “furdunço” abrandou... ou que nós nos acostumamos com a fedorama, no banco de trás um tiozinho começou a tossir desesperadamente, aquela tosse catarrada... que beleza!!!

Nem se eu tivesse tomado uma caixa inteira de Valium eu conseguiria dormir.

E se já não fosse suficiente, duas alemãezinhas começaram a tagarelar animadamente sobre um monte de bobagens!!! Às vezes, como fazem falta as bombas atômicas...

Parecia muito com esse aí...
Lá pelas duas da manhã paramos no meio do nada francês. Decidi ir ao banheiro... uma verdadeira aventura!!! Logo na primeira cabine tinha aquele buracão no chão que dizia: “Tente fazer pipi aqui... eu vou te pegar!!!”. Como fazer as necessidades naquilo??? Sorte que tinha o de deficientes. Fingi que estava mancando e marchei pra lá... eu é que não iria me arriscar a cair naquele buraco, já pensou que humilhação?!?

Chegamos a Tours 05h55min da manhã (acho que vou jogar no bicho: 55 no cavalooooooo!!!!), eu ainda torta de sono escuto aquela tão temida frase em alemão “Troca de balaio”... 

Nãoooooooooooooooooooooooooooooooo!!!

E pra carregar aquela porcariada toda?!? Nenhuma santa alma se prontificou a me ajudar... ninguém... ninguenzinho!!! Que dificuldade... No bagageiro já levei uma cotovelada no olho, que além de me acordar de vez, me fez pensar que tinha quebrado os óculos.

Depois todo mundo teve que ir ao Bureau pegar um cartão branco, e haja força pra carregar toda aquela tralha. Ordenei pra mim mesma: “Força na peruca humorista!!!”

Então começou a amanhecer e os passarinhos franceses cantando “piue, piue, piue...” com biquinho...

De repente um catarrento de uns seis anos fica preso no banheiro (aqueles que têm que colocar vinte centavos na fechadura para aliviar a natureza)... a mãe do moleque naquele desespero, fumando um cigarro atrás do outro, o fedelho gritando lá de dentro. Até escutei algo sobre Feuerwehr... Aquele circo!

Até que 15 minutos depois o guri resolve tentar abrir a porta por dentro (já que até então, ele só tinha tentado empurrar a porta), e como num passe de mágicas a porta se abre... Catarrento apronta cada uma...

O ônibus só foi sair as 07h09min da matina. Sentei novamente do lado de um marrocano, arabano ou turcano que tinha me acompanhado no primeiro balaio. Essa hora eu já estava caindo, literalmente, de sono e de dez em dez minutos acordava com a boca aberta... imagina a cena... eu dormindo com aquela bocona bem aberta e o marrocano ou sei lá o quê pensando... “nossa, não dava pra fechar a boca”... que cena!!!

Às 10h23min da manha passamos pelo 6° ou 7° pedágio do caminho (juro que já havia esquecido que eles existiam), e eu escutando o meu super-mega-hiper MP3 de 4 Gigas... aí eu escuto a frase do Chico Buarque “procurando bem todo mundo tem pereba, só a bailarina que não tem”, hahahaha... Lembrei da bailarina de Düsseldorf, será que ela tem pereba???

Para minha sorte, o ônibus parou em mais uma cidade no meio do nada e desceram mais alguns passageiros. Pude, então, ter duas poltronas só pra mim... que paraíso. Mas vocês sabem que pobre é fod... né? Só porque agora podia dormir com a bocona bem arreganhada... meu sono tinha ido embora... fiquei fula da vida.
Só me restou escutar música e admirar a paisagem, que em nada se parece com as Autobahn´s da Alemanha.

Última parada... Carrefour... me senti no Brasil. Depois que comprei um Powerade azul, para ver se melhorava o meu cansaço, voltei para o busão e constatei, tristemente, que minha retaguarda estava doída de tanto ficar sentada. A cada minuto ficava mais desesperada para sair daquela caixa de sapatos gigante. A cada placa de Toulouse, renovavam-se as minhas esperanças de sair daquela lata.

Um pouco depois um indiano que viajava no banco da frente começou a comer um sanduíche de salame. Aquele cheirão de salame invadindo a lotação. Descobri que estava faminta e que não tinha levado nada que prestasse para comer e aquele cheiro aumentando... quase pulei no salame do indiano...

O que eu diria? Mãos ao alto... eu vou seqüestrar o seu salame!!! A sorte é que eu sou chique e me controlei... caso contrário, a essa hora, o indiano já estaria sem salame!!!

Ás 14h42min o ônibus parou na Rodoviária de Toulouse... o Humorista estava lá me esperando... e finalmente pude deixar para trás pum´s, cof´s cof´s, bocas arreganhadas, seqüestro de salame e popôs doloridos...

Querido, cheguei!!!

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sábado, 11 de dezembro de 2010

Mickey Mouse e o Rockabilly Rabbit...

Há um tempinho, quando morávamos na terra do croissant, encontramos o sonho de consumo do Mickey Mouse... Com certeza ele ficaria extasiado...


Um dia, passeando sem destino pelas ruas de Toulouse, encontramos o Marché Victor Hugo, bem no centrão da cidade! Era um prédio sem graça, branco, quadrado... mas, apesar da aparente "semgraceza" do local, levados pela nossa quase inexistente curiosidade, invadimos o local.

Fomos assim, meio que sem pedir licença, e encontramos o tesouro escondido no coração de Toulouse: queijo, pão, vinho, peixe, carne de coelho topetudo, boi, carneiro, pato, perú, frango, lula, polvo, ostras, caramujos, mariscos, caranguejos, lagosta, camarão...

Era tanta coisa, que nos demoramos um bom tempo lá dentro (e voltamos inúmeras vezes depois). Uma pequena amostra do que encontramos está aqui, um pouquinho da variedade dos queijos da região...

É queijo de tudo quanto é jeito: molhado, seco, mole, duro, fedido, cheiroso, feio, bonito... É só escolher um e levar pra casa... E como eram gostosos os queijos franceses... uma delícia!!!!

Mas claro, como não podia deixar de ser, coisas estranhas tinham que acontecer...

Lá, vasculhando o Marché Victor Hugo, avistamos algo inédito aos nossos olhos, avistamos um coelho rockabilly. Não sei por que, mas parece que os franceses têm a mania de comprar o coelho inteiro (não é a coxinha, o peitinho, o rabinho não... é tudo, tudinho)... aí, fica aquele bicho lá, morto, esticado, escalpelado... na verdade não é muito bom de ver não, mas, pelo bem da ciência, nós olhamos de tudo, inclusive coelho morto, até que avistamos um coelho fora do comum, muito estiloso, cheio de marra... fashion pra dizer a verdade... 

O bicho estava lá todo peladinho, esticadinho, igual a seus amiguinhos, mas tinha um diferencial, ele tinha um baita dum topete... Lá, sozinho, bem no topo do cucuruto, estava aquele tufo de cabelo cinza... acho que foi uma das coisas mais estranhas que eu vi até hoje... Imaginem um coelho morto, bem dentuço, sem pele e com um enorme topete cinza, pois é... esse era o nosso amigo Rockabilly Rabbit...

Dele, eu não tirei foto no dia, estava despreparada, mas daquele topete eu não esquecerei jamais!!!


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O Rio de Janeiro continua lindo...

Amanhã viajo para o Rio de Janeiro, o cartão postal brasileiro... Mas acontece que essa semana o Rio não está tão postal assim... Na verdade, ele está mais para Faixa de Gaza!!!

É Bope, Exército, Fuzileiros Navais, Comando Vermelho, ônibus e carros incendiados, Caverão, Tanque de Guerra, arrastão, bala perdida, fuga de traficantes, ocupação de comunidades...

Darei uma de matrix... quero desviar das balas igualzinho o Neo... tchunnnnnnn... tchunnnnnnn...

Pois é, mas apesar da guerra não declarada que está lá, a festa da empresa continua marcada para amanhã... Confraternização de final de ano, aquelas coisas "suuuuper bacanas" do mundo corporativo... Vamos alegrar a peãozada...

Acordarei as quatro da madruga para chegar em Congonhas as 06:40hs. Fazer check-in, achar poltrona, decolar, talvez pegar uma turbulência básica, Galeão... Tudo o que vocês já conhecem.

A sorte é que a empresa pagou tudo, mas se eu nunca mais passar por aqui, vocês já sabem o que aconteceu... com certeza, terei direito ao auxílio-funeral... hahahaha...

Assim, como reflexo das minhas possíveis últimas palavras, deixo aqui meu singelo testamento, a expressão máxima de minha última vontade na Terra:

Para o meu pai, minha mãe, meu irmão e meu marido deixo todas minhas dívidas, repartidas fraternarmente entre aqueles que mais amo!

O que sobrar... vai para caridade!!!

Declaro, para os devidos fins, estar em plena posse de minhas faculdades mentais.. e tenho dito!!!!

Hahahahaha... Até a volta... if...

domingo, 21 de novembro de 2010

A intrépida Ravenguinha - parte #2

No capítulo anterior: A intrépida Ravenguinha - parte #1


Pois bem, após a morte do Rei Diponga, Ravenguinha voltou para Tebas e encontrou seus irmãos, Eteócles e Polinice, se estapeando pelo trono. Nesse dia, ela ficou sabendo que depois da saída humilhante de Diponga da cidade, seu tio, o sisudo Creonte, assumiu o reino, tornando-se o senhor de Tebas. 

Mas Polinice, o filho emo de Jocasta, assolado por sua obesidade mórbida, não gostou nada do assunto e tramou, enquanto ouvia Restart, Fresno, Nx Zero e Cine, um golpe de Estado para arrancar de Creonte o comando da cidade.

Ele pensou em quase tudo, só se esquecendo que Etéocles, seu irmão encrenqueiro, era o secretário de segurança de Tebas, e que, muito satisfeito com seu posto, defenderia o trono de Creonte até às dentadas, se preciso fosse.

E foi no dia do confronto entre o emoglobina Polinice e o encrenqueiro Etéocles, que Antígona, a intrépida Ravenguinha descabelada, chegou na cidade. Ela viu socos, tapas, pontapés, mordidas, escarradas, arranhões, puxões de cabelo, barrigadas, cabeçadas, chave de braço, chave de pescoço, chave de nariz, sangue... muito sangue...

Até ela levou uns tapas quando tentou separar a briga... Era uma gritaria só, até que depois de tanta luta-livre, os dois morreram de cansaço e perda de sangue.

Creonte, em sua sede de vingança, impediu que sepultassem o corpo de Polinice, primeiro pela sua traição, segundo, porque teria que mandar fazer um caixão super-hiper-mega-blaster-grande, pois o corpo era enorme, e terceiro porque seriam necessários muitos homens para carregá-lo. 

Creonte achou que era muito trabalho para um traidor e que ele seria muito mais útil como comida de urubu, condenando à morte todos aqueles que desrespeitassem o seu desejo.


No entanto, Ravenguinha, inconformada com a sorte de seu irmão emogloblina, procurou sua medrosa irmã, Ismene, no intuito de pedir-lhe ajuda para enterrar o irmão. Naquela época, não havia castigo pior do que deixar um corpo sem sepultura, pois a alma do presunto ficaria vagando por aí, sem rumo, sem destino e sem sossego.

Sabendo disso, Ravenguinha fez de tudo para enterrar Polinice, mas Creonte foi enfático em sua proibição, afirmando que mataria a própria sobrinha, caso ela tentasse desobedecer suas ordens. E então, para garantir a papinha da urubuzada, Creonte deixou vários sentinelas cuidando do corpo.

Mas era verão, aquele calorão e o cheirinho de podre foi pouco a pouco tomando conta do lugar. Os sentinelas, já com os estômagos revirados, resolveram se afastar um pouco do defunto a fim de respirar melhor, e foi nesse momento que Ravenguinha descabelada, de soslaio, começou a enterrar o corpo do irmão.

Quando os sentinelas voltaram, descobriram que alguém havia ousado jogar um pouco de terra sobre o presunto. Apavorados, rumaram ao palácio para informar o ocorrido a Creonte, que não gostou nada da notícia. Muito contrariado, o Rei mandou seus homens ficarem à espreita, para então pegarem o infrator em flagrante.

E foi assim mesmo que a coisa toda aconteceu. Ravenguinha, com seus cabelos de Ravengar ao vento, voltou e tentou jogar mais terra sobre o irmão. Ela sabia que precisaria de umas cinco caçambas de terra para terminar o serviço, mas era o seu dever... Ela estava lá, pá por pá tentando cobrir o enorme Polinice até que foi surpreendida pelos sentinelas, que satisfeitos a levaram pelos cabelos até Creonte.

Aí começou o confronto entre tio e sobrinha, um alegando a soberania de suas ordens e outro afirmando que as leis "não escritas", que as leis "sagradas" prevalecem sobre qualquer capricho de um rei vingativo. 

Foi um bate-boca daqueles... No fim, Creonte, já cansado da discussão, acabou condenando Ravenguinha à morte, tanto pela audácia quanto pela feiura. Uma de suas explicações para o decreto de morte de sua sobrinha foi a de que seu filho Hêmon, até então noivo de Ravenguinha, deveria encontrar uma mulher mais bonita e menos desbocada.

Hêmon, desesperado, implorou para o pai não matar seu grande amor. Ela podia ser feia, a cópia do Ravengar, mas para ele, ela era um pitelzinho... Apesar dos apelos do filho, Creonte, cego pela fúria, foi irredutível, confirmando a iminente morte de Antígona.

Ismene, a medrosa irmã de Ravenguinha, arrependida de não tê-la ajudado, pediu ao tio para compartilhar sua sorte, sendo as duas, mesmo contra os protestos de Antígona, levadas para a prisão.

A cidade ficou em polvorosa, todos preocupados com os últimos acontecimentos, e foi por isso que o cegueta Tirésias Mercado (Ligue Jiá), vidente charlatão (aquele mesmo que havia adivinhado que o Diponga iria matar o próprio pai e casar com a própria mãe), resolveu falar com o vingativo Creonte. Ele disse com seu portunhol enferrujado:

"Crionti, mi hijo, no puedes hacer eso, mi pressárrios dicem que debes libertar Rabengota e interrar Emoglobinus, o entonces desgracia similhante te ocurrirás. E ligue djá".

Creonte ficou possesso, a verdadeira looouuuca de bolsa, e expulsou Tirésias aos gritos do palácio: "Sai daquiiiiiii seu cegueta charlatão. Vai cantar em outra freguesia seu bobalhão!!!!!".

Tirésias Mercado quase deu de cara com a parede, pois era cego e não sabia muito bem o caminho da saída, mas por sorte conseguiu encontrar a porta do palácio antes de levar uns pontapés no traseiro, deixando para trás um Creonte irritado e temeroso.

Depois disso, o Rei de Tebas não conseguiu pensar em outra coisa: "Matar ou liberar Ravenginha, eis a questão!

Ele pensou, pensou, pensou... pensou mais um pouco e tomou uma decisão: ouvir as profecias do charlatão "Ligue jiá" e libertar sua entrépida e feiosa sobrinha.

Porém, quando ele tomou essa decisão já era tarde, Inês já era morta, ou melhor, Ravenguinha já era morta... Ela se enforcou na cela, e com ela, seu filho Hêmom, que depois de cuspir no rosto do pai, também se matou...

A desgraça chegou aos ouvidos de Eurídice, mulher de Creonte e mãe de Hêmom, que, desolada, suicidou-se de desgosto. Foi uma verdadeira carnificína...

Todos seus entes queridos haviam morrido, Creonte estava sozinho no trono por ser irredutível em suas decisões, afrontar os deuses e não dar ouvido à razão.

Ravenguinha, nossa intrépida heroína, mulher forte e decidida, ousou desafiar um homem, situação ímpensável naquela época. Morreu descabelada, acreditando ser vítima de um dever sagrado, o de prestar a última homenagem ao corpo de seu problemático irmão emoglobina, que morreu por sua ganância, mas nem por isso merecia vagar eternamente sem descanso, puxando o pé dos vivos por noites sem fim.

Todos se foram por um motivo, uns mais nobres do que os outros, mas não menos importante. Somente sobrou Creonte, que depois de tanta morte, entendeu seu erro, pena que tarde demais... Infelizmente, ele, depois de seu ataque de remorço (e de hemorróida), teve que aprender a ser justo do modo mais difícil...


Essa foi uma paródia bem humorada da obra Antígona de Sófocles - Mitologia Grega. 

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Guidão, O Melhor Pai do Universo !!!

Ontem, um amigão nosso perdeu um de seus entes mais queridos, seu maior exemplo, sua inspiração. Ontem, nosso amigo perdeu seu pai, Guidão, conhecido como "O Melhor Pai do Universo".

Não o conheci pessoalmente, mas tenho certeza que ele foi um homem que deixou sua marca nas pessoas que com ele conviveram, pois dele eu só conheço uma de suas obras, o resultado da educação de um filho de ótima índole e coração, casado com uma moça igualmente maravilhosa.

Sei que essa passagem é o curso natural da vida: os velhos partem antes dos novos, que logo se tornarão velhos e assim por diante. Sei que é natural, mas também sei que é dolorido e desesperador. Por que ele não podia ficar mais um pouquinho??? 

Imagino a dor de perder um pai, "O" pai. Guidão se foi em meio à luta desesperada contra uma doença silenciosa.

Nessa hora, nenhuma palavra servirá de consolo, mas espero que esse nosso grande amigo consiga, o mais rápido possível, lembrar de seu pai em seus grandes momentos, nas brincadeiras da infância, no jantar de domingo, contando aquela piada inesquecível, naquele abraço emocionado depois de meses separados pelo Atlântico, assistindo aquela incrível corrida no sofá de casa, daquele dia da belina, nas festas familiares, dele contando que o pelé fez dois gols no finalzinho do jogo contra o vasco, carregando o saco de pão, com os poucos e bons amigos contadores de causos, nas lições de vida, nos conselhos sábios, nos provérbios batidos, nas broncas merecidas, nos olhares amorosos.

Nosso eterno amigo, espero que você se lembre dele como um exemplo a ser seguido, um homem com falhas como todos nós, mas que lhe deu a vida e que lhe ensinou, de uma maneira ou de outra, a ser quem você é hoje.

Não lhe pedirei para deixar a tristeza de lado, pois isso é impossível, só lhe pedirei para trocá-la gradativamente por lembranças bonitas daquele homem que foi o seu pai, o melhor pai do Universo.

Um super beijo no coração.

Te adoramos!

Luiz e eu  

domingo, 7 de novembro de 2010

A intrépida Ravenguinha - parte #1

Era uma vez, uma destemida e amorosa garotinha de cabelos parecidos com o do Ravengar chamada Antígona. Ela era filha de Édipo, assassino incestuoso, e de sua própria avó, Jocasta, a fogosa rainha de Tebas.

Nascida numa família, no mínimo, conturbada, Antígona tinha tudo para ser uma jovem tresloucada, mas não, ela seguia contente e serelepe ao lado de seus três irmãos, Etéocles, Ismênia e Polinice.

É bem verdade que os irmãos às vezes se estapeavam, mas nada fora do normal, uma briguinha aqui pela barbie sem cabeça, outra ali pelo incêndio na casinha de bonecas, outra acolá pelo arremesso das rodas do caminhãozinho de brinquedo pela janela, algumas garfadas por causa de assaltos de batatas-fritas, mas nada sério, somente briguinhas fraternais.

Na adolescência, ela gostava de ouvir Luiz Caldas, Amado Batista, Beto Barbosa e Kaoma, usava mini-saia rodada laranja e centenas de pulseiras barulhentas nos pulsos. Quando ela andava, fazia um barulho parecido com o de uma vaquinha leiteira, tirilililó, tirilililó, tirilililó... Seu apelido era Ravenguinha.

O pai dela, Édipo (Diponga para os íntimos), após conseguir derrotar a monstruosa esfinge que assombrava a cidade de Tebas matando os forasteiros que não conseguiam responder aos seus ridículos enigmas, tornou-se Rei da cidade e ganhou de lambuja a mão da fogosa Jocasta, que, por acaso, era sua mãe. Muitos anos se passaram sem que ele soubesse que sua esposa era na verdade sua adorada mãezinha.

Ele não sabia de sua origem, pois foi abandonado quando criança. Tudo aconteceu pois quando ele nasceu, a família Labdácias foi assolada por uma terrível maldição: o bambino nascido deste casório mataria o próprio pai e desposaria a própria mãe.

Quem deu essa notícia ao serelepe casal foi o cegueta Tirésias Mercado (Ligue jiá), um vidente meio charlatão, mas que acertava vez ou outra.

Sabendo da desgraça anunciada, e não querendo correr o risco, Laio e Jocasta (guardem esses nomes) trataram de abandonar o pequeno Diponga bem longe, num lugar chamado Monte Citerão.

Pois bem, muitos anos se passaram, Diponga derrotou a esfinge, ganhou a mão de Jocásia, e tudo corria feliz. Ocorre que, enquanto esta parte de seu passado continuava oculta, o agora Rei Édipo (Diponga para os íntimos), praticava peripécias nupciais com sua assanhada Jocasta... os rebentos foram nascendo, chorando, crescendo... as coisas foram mudando, os antigos discos de vinil foram trocados por pequenos e brilhosos cds, vieram os cabelos brancos, aquela coisarada toda.

A vida ia muito bem até o dia em que a cidade foi assolada pela peste. Os súditos do reino estavam empestiados ao som de Raul Seixas, "Tá todo mundo louco, oba! Tá todo mundo, oba! Tube ri din din, din diiiiinnnn", era um horror, o verdadeiro caos!

O pai de Ravenguinha, homem que acreditava em espiritismo e ciências ocultas, pediu para seu cunhado, o sisudo Creonte, consultar o oráculo da cidade. Na volta, Creonte informou-lhe que para acabar com aquela "pestarama" toda, seria necessário encontrar e banir da cidade o assassino do antigo rei de Tebas, o bêbado Laio, que por ironia do destino (e bota ironia nisso), era o verdadeiro pai de Diponga, e que, mais ironicamente ainda (porque desgraça pouca é bobagem...), havia sido assassinado pelo próprio Diponga à bengaladas dias antes dele derrotar a esfinge enigmática de Tebas.

O problema todo era que o violento Diponga não sabia que aquele cara que ele havia matado por causa de uma cretina discussão futebolística acerca dos dons divinos do cacheado Valderrama no bar do Zé Bedeu era, na verdade, seu pai, o caçhaceiro Laio, antigo Rei de Tebas, que lá no começo da história o havia abandonado, junto com Jocásia, por causa daquela maldição de que o filho deles mataria o próprio pai e desposaria a própria mãe.

Então, para descobrir a identidade do assassino, Diponga mandou chamar o cegueta charlatão, Tirésias Mercado (Ligue jiá), que contou toda a verdade, revelando que ele tinha assassinado seu pai e que tirava casquinhas de sua mãe... (dessa vez ele acertou de novo). A Corte ficou alarmada e Diponga foi cozido em sua própria culpa.

No meio de todo esse escândalo, Jocasta, a rainha-socialite que vivia em destaque na mídia e que adorava passear no Castelo de Karras, não pôde suportar a humilhação de ser amante de seu próprio filho e suicidou-se enforcada com o cadarço verde fluorescente do tênis estilo emo de seu filho.

Diponga, ao ver sua mãe-esposa enforcada, furou seus próprios olhos com os colchetes bijoux do vestido da rainha socialite. Foi um pandemônio!

Os dois herdeiros, Eteócles (encrenqueiro de carteirinha) e Polinice (emo, obeso mórbido, dono do cadarço), expulsaram o pai da cidade, que triste, abatido, humilhado e cego, partiu para o exílio na zona leste de Atenas, guiado pela sósia do Ravengar, sua amada filha.

Ravenguinha acompanhou seu pai até seus últimos dias, quando, levado pela dengue, foi enterrado num caixão de papelão no cemitério do Araxá. Muito abatida e totalmente esquecida da existência de chapinhas e cremes domadores de cachos, Antígona voltou para Tebas e encontrou seus irmãos se estapeando pelo trono.

Não percam as cenas dos próximos capítulos...




terça-feira, 2 de novembro de 2010

Fausto - Tragédia em duas partes...

Johann Wolfgang von Goethe foi um dos mais brilhantes escritores alemães da história. Sua grande obra foi Fausto, escrita entre 1797 e 1831. Seu poema é baseado na lenda alemã protagonizada pelo médico, mago, astrólogo, alquimista e cientista Dr. Johannes Georg Faust, que, segundo contam, viveu ali pelo final do séc. XV, início do séc. XVI. 

A lendária figura do Dr. Fausto também faz parte de inúmeras obras literárias, entre elas A Vida de Fausto, de Maler Müller (1778), Vida, Feitos e Danação de Fausto, de F.M.Klinger (1791) e a peça Dr. Faust, de Christopher Marlowe (1589), 

A famosa obra de Goethe, por sua vez, retrata um homem desiludido e cansado da mediocridade de seu tempo, numa eterna busca pelo absoluto. Em meio ao seu descontentamento, Fausto resolve fazer um pacto com o demônio Mefistófeles, que antes de tentá-lo, já havia feito, no céu, uma aposta com Deus, que concedeu-lhe carta-branca para corromper o insatisfeito Fausto.

No pacto, feito por um contrato assinado com seu próprio sangue, Fausto negocia viver vinte e quatro anos da sua vida, o que lhe daria a oportunidade de superar os conhecimentos de seu tempo, em troca de, claro, sua alma (clichê, né? O diabo sempre quer a mesma coisa, o que será que ele faz com tanta alma, vende na farmácia?).

Pois bem, milhares de descobertas, aventuras e emoções são brilhantemente descritas nesta obra, que  passando pelo céu, pela terra e pela história européia, termina com o encontro de Fausto com o amor e sua luta para enganar o danado do diabo.

É aqui que a bebedeira teve início
Dentre as envolventes passagens da obra de Goethe, há um trecho em especial que pude vivenciar de forma mais vívida, com texturas, odores, sabores e um pouquinho de álcool, pois ninguém é de ferro e já aproveitei e entrei no clima... foi a passagem da bebedeira na Auerbachs Keller, em Leipzig/Alemanha:
"Taberna do Retiro d’Auerbach, em Leipsick. Porta, ao fundo, para a rua, entre duas janelas de peitos. Ao meio da casa, mesa grande, com pratos, talheres, garrafas e copos de estanho e vidro, tudo em confusão, e sem toalha. À roda da mesa, bancos. À esquerda o balcão, e mais uma armação de taberna. Por trás do balcão, uma cesta de ferramenta. Pendente do tecto, um grande lampião aceso"
Mefisto, Goethe e eu
Reza a lenda que o verdadeiro Dr. Fausto teria, dentro do Auerbachs Keller, rodado um enorme barril de vinho direcionando-o para a rua, feito que somente poderia ter sido realizado com a ajuda do diabo. Por conta desse fato, Goethe teria incluído em seu poema a homérica bebedeira no Auerbachs Keller.

Não sei se ele rodou o barril, mas posso garantir que o barril era grande mesmo e que o vinho de lá é mesmo espetacular, e olha que eu nem sou uma grande degustadora de vinhos...

Mas para aqueles que não gostam tanto de vinho, tem também a autêntica cerveja alemã, que segundo testemunhos legítimos, é uma delícia...

Mas mesmo com essa maravilhosa fama, decidi ficar só no vinho mesmo, pois sabem como é, né??? Misturar só dá ressaca...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quatro olhos fundo de garrafa

Aos 29 anos, 6 meses e 14 dias, dei adeus à miopia e ao astigmatismo, que me acompanhavam desde que eu me entendo por gente. Ao todo, eram 7 graus no olho direito e 6,5 no esquerdo.

Foram anos e anos procurando os óculos às apalpadelas, não enxergando o relógio no meio da noite e vendo tudo embaçado sem o meu fundo de garrafa.

Mas hoje isso mudou, resolvi fazer a tão sonhada cirurgia refrativa. A ideia toda foi meio de improviso, não estava pensando em operação. Mas, como uma coisa leva à outra, quando dei por mim, já tinha marcado a data para entrar na faca.

Os momentos que antecedem a cirurgia são tensos e angustiantes. A gente pensa, será que vou ficar cega? Será que vão furar meu olho? Dá vontade de dizer, “Não dotô, não fura meu ôio não!!!”

Mas a gente acaba não dizendo nada e passa por corajoso.

No entanto, como na minha vida nada é muito como manda o figurino, na minha vez, é lógico que a máquina tinha que dar problema. Estou lá eu, deitadona na maca, toda apreensiva, depois de receber algumas gotinhas de um colírio anestésico, quando me empurram pra baixo de um trambolho bege e me mandam olhar para a luz.

Vá para a luuuuuuuz, vá para a luuuuuuuz!

Era uma luz piscante, laranja-avermelhada. Piscava num ritmo enervante. Neste momento, me enfiaram no olho um arregalador de olhos, para eu não piscar enquanto o laser fazia o seu trabalho.

Muito bem, estou eu lá com meu lindo olho castanho esbugalhado, quando descubro que a máquina está com problemas: o laser não está calibrado como deveria (será que é um pneu???). Tiraram-me debaixo do trambolho e disseram: só um momento, pois temos de recalibrar o laser.

Quê? Bem na minha vez? Tinha que ser o Chaves, mesmo!

Enquanto calibravam o tal do laser, o trambolho bege soltou vários uivos estranhos, me assustando mais ainda, até que me informaram: Pronto, chegou a hora!

Pensei, é agora que eu me lasco!

Lá me empurraram de novo pra baixo do troço, esbugalharam meu olho esquerdo novamente, passaram umas espátulas com alguns produtos, acredito que esterilizantes, no olho e me mandaram olhar fixamente para a luz.

Ai, que medo de mexer o olho!

E começou aquela barulheira. Ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta. A vista vai ficando enevoada, fica cada vez mais difícil de ver a luz, até que só se sente um cheirão de queimado...

Churrasquinho de Patricia, pensei.

Depois da catinga a la churrasquinho de gato, passaram mais um produto e colocaram uma lente protetora. Começou então a preparação do olho direito.

Ai, tudo outra vez! Mais churrasquinho!

Antes da saga no olho direito, escutei uma voz feminina exclamar algo parecido com “Noooossa!” Realmente, pareceu que tinha dado algo errado, mas continuaram assim mesmo.

No final de tudo, o médico me disse que tinha dado tudo certo, não sei se acreditei, mas agora era tarde e Inês já era morta... Só sei que não doeu nadinha e foi muito rápido, o procedimento não dura mais do que cinco minutos. O medo inicial não tinha mesmo razão de ser. Já saí da maca enxergando, muito mais do que quando havia deitado. É uma diferença impressionante.

Saí um pouco tonta, é verdade, mas isso logo passou e comecei a ficar eufórica por, mesmo embaçado, conseguir enxergar mais do que sempre enxerguei.

A técnica utilizada foi uma tal de PRK, que tem o pós-operatório um pouco mais desconfortável do que sua prima, LASIK, mas que nem é tão ruim assim. Ainda não posso ler nem forçar muito a vista, pois dói um pouquinho, mas já consigo distinguir objetos antes irreconhecíveis. Agora, preciso ficar três dias na escuridão, e sempre de óculos escuros. Acho que nunca fiquei tanto de óculos escuros quanto hoje e provavelmente as semanas que virão.

Amanhã é dia de voltar ao consultório para ver o resultado. Parece que, de agora em diante, abandonarei meu fundo de garrafa e, de cinco olhos, passarei a ter só três.

Boa sorte pra mim!!!

P.S.: quem escreveu isto fui eu, Luizpédia, já que a dona do blog não pode nem olhar para monitores durante estes dias de escuridão total. Ela ia ditando e eu ia escrevendo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dia das Crianças pede: Avaiana de Pauuuuu...


Agora com a versão em inglês... hahahahaha...
Avaiana the wood...

Feliz Dia das Crianças...


FELIZ DIA DAS CRIANÇAS... 
FAÇA FELIZ A CRIANÇA QUE EXISTE DENTRO DE VOCÊ!!!

PS. O post original saiu um pouco revoltado, então reformulei e saiu isso aí!

domingo, 10 de outubro de 2010

Die Dame: Hildegard Knef...

Hildegard Knef nasceu em 28 de dezembro de 1925, em Ulm, no sudoeste da Alemanha. Atriz, pintora, desenhista, escritora e cantora, Knef cativou milhares de fãs em seus 76 anos de vida.

No entanto, nem tudo foram rosas para ela. Perdeu o pai ainda bebê. Aos 18 ela sonhava em ser pintora, queria tanto que conseguiu uma bolsa de estudos, para desgosto de sua mãe. Depois de adentrar no meio artístico da primeira metade do século XX, Knef conseguiu, em 1940, um financiamento para estudar dramaturgia, profissão não muito bem vista na época, em plena Segunda Guerra Mundial.

Ali, ela começou sua carreira de desenhista de filmes animados e virou frequentadora da escola de cinema de Babelsberg, em Berlim. Por causa de sua personalidade, e beleza, estreou no cinema alemão em 1944, no filme Träumerei (Devaneio), de Harald Braun, tendo suas cenas cortadas na hora da edição.

Nos últimos dias da guerra, para evitar ser estuprada pelos soldados soviéticos, Knef tentou fugir de Berlim vestida como homem. Seu disfarçe a ajudou quanto à violência sexual, porém não a livrou de ser capturada, espancada e enviada para um campo de prisioneiros de guerra. Ela conseguiu fugir e tomou o único rumo que podia, as ruínas de Berlim.

Reconstruindo a vida no pós-guerra, Knef voltou ao cinema e estrelou o filme Die Mörder sind unter uns (Os assassinos estão entre nós), em 1946, papel que lhe rendeu o estrelato e um convite para brilhar em Hollywood, desde que aceitasse duas condições: mudar o nome para Gilda Christian (Gilda Cristã, olha só a ironia) e fingir ser austríaca, já que alemães não estavam muito em alta na época por causa do pequeno bigodudinho. Foi nesse momento que Knef mostrou sua forte personalidade, recusando-se a ceder às exigências hollywoodianas e voltando para Alemanha.

Sua carreira continuou brilhando em solo germânico, até o momento em que ela se tornou protagonista de um dos maiores escândalos do cinema alemão, aparecendo nua no papel de uma modelo para estudantes de desenho no filme Die Sünderin (A pecadora), de Willi Fort, em 1951. Foi a primeira nudez do cinema alemão e a igreja católico fez um escândalo, mas Knef somente comentou: "Não posso compreender todo esse tumulto cinco anos após Auschwitz!". 

Ela foi duramente criticada pela opinião pública e discriminada a ponto de não poder mais frequentar restaurantes e lugares públicos, sendo, então, obrigada a deixar a Alemanha.

Em 1952, com o apoio do primeiro marido (ela teve três), o americano Kurt Hirsch, Knef tentou brilhar em Hollywood pela segunda vez, mudando seu nome de Knef para Neff, pois os americanos não conseguiam pronunciá-lo. Mesmo disposta, Knef somente conseguiu um papel de apoio na adaptação de Hemingway, The Snows of Kilimanjaro. Então, não se abalando com o ocorrido em solo norte americano, e depois de acalmados os ânimos alemães, Knef voltou à Europa e se tornou a estrela do cinema alemão, francês e britânico.

Depois de seu sucesso, Hollywood resolver dar-lhe uma terceira chance, dessa vez nos palcos da Broadway, no musical Silk StockingsKnef ainda tentou alegar que não sabia cantar, mas Cole Porter insistiu e proporcionou mais um momento de brilho na carreira da multitalentosa Frau Knef.

Em 1963, depois de brilhar na Broadway, e do segundo divórcio, desta vez com David Cameron, que lhe custou toda fortuna, Hildegard Knef resolveu trilhar um novo rumo, agora mostrando ao mundo sua voz rouca e profunda. Foi nesse momento que ela se tornou definitivamente a Grande Dama da Alemanha, cantando músicas consagradas e mostrando ao mundo suas próprias composições. Foram muitas músicas, letras, discos, shows, casamentos, doenças e mais de 50 operações. Knef lutou muito contra o câncer e a hiprocrisia, sempre com sua lingua afiada e sua disposição para brilhar. Em 1970 ela escreveu o bestseller autobiográfico Der Geschenkte Gaul: Berichte aus einem Lebem (O Cavalo de Recordações: Relato de uma vida). 

Ao completar 75 anos, e muita luta contra o câncer, Knef deu a volta por cima depois de 20 anos de silêncio discográfico, lançando seu último álbum. Foi aplaudida por toda Alemanha até falecer em Berlim, aos 76 anos de idade, em 1º de fevereiro de 2002, época em que estava casada com seu terceiro marido, Paul Schell. Lembrada até hoje, ela é a diva do cinema e da música alemã, dona de uma voz inesquecível.


(O título da música, traduzido por mim, é "Eu gostaria de ter na segunda-feira outro domingo", eu também !!!!!!)


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