domingo, 12 de dezembro de 2010

Diário de Bordo Humorista... Deixando os alemães... Encontrando os franceses...

Gente!!!! Essa semana eu achei uma parte do meu diário de bordo... Foi o relato fiel do dia em que me mudei da Alemanha para a França... Eu nem lembrava que tinha escrito isso, quando vi, nem acreditei... Quase caí de dar risada...

Para vocês entenderem, eu fiz minha mudança em março de 2008, num ônibus de viagem, foram mais de 19 horas sentada... aconteceram coisas hilárias...

A título de esclarecimento, vai a legenda: Os "Back Street Humoristas" são os amigos que deixei em solo alemão: Srdjan (o nome dele é assim mesmo, ele é da Sérvia), Pedrinho, Jujú e Clara. A bailarina é uma brasileira que conheci em Düsseldorf e que dança no balé da cidade. Guitarrista desafinada sou eu. Marrocano é marroquino. Dom é a enorme categral de Köln (Colônia). Feuerwehr é bombeiro em alemão e Autobahn é estrada... e acho que isso é tudo... 

Pois bem, e assim foi o meu relato:

Pedrinho:verde;Jujú:azul;Clara:vermelho;Srdjan:preto;e eu
Na hora da partida começou o meu calvário... os “Back Street Humoristas” preocupados com a possibilidade da guitarrista desafinada mudar de idéia. Suor escorrendo pelos colarinhos e eles pensando, rezando, suplicando: “Será que ela vai mesmo?!? Será que existe o perigo dela voltar?!?”.

Calma, amiguinhos... Não será necessário fazer novenas, pedir milagres para Santo Expedito, ir a terreiros de macumba, nem fazer despachos... Eu fui mesmo!!!

Primeira parada: Köln para trocar de balaio. Mas que lixo de Rodoviária, nem me atrevi a sentar nos minúsculos banquinhos laranja, por medo de contrair a febre amarela, a febre verde, a febre roxa ou o que podia ser pior, a febre laranja!!!

Sei lá, né?!? Cada dia aparece uma doença nova... Deus que me livre!!!

Enquanto eu divagava com a possibilidade de contrair a peste negra, passaram-se infinitos 50 minutos. De onde eu estava só conseguia avistar a pontinha do Dom e sentir meu pé doendo por causa da minha maldita bota de €4,95. Isso que dá ser chique, a bota parece que está mastigando o seu pé!!!

Bem, voltamos para o balaio e como num ônibus de viagem não existe nada melhor do que dormir para esquecer a situação decadente em que se encontra, todo mundo começou a se arrumar nas cadeiras, esticar as pernas (na medida do possível), improvisar travesseiros e por aí vai... Como não sou exceção, eu também.

Estou eu lá, pensando na morte da bezerra quando, de repente, não mais que de repente, alguém solta um discreto “pum”... ai, ai, ai... Com certeza o elemento deve ter comido um leitão inteiro no dia anterior... Que fedô!!! Em meio àquele cheiro de urubu em estado de putrefação eu pensei: “Ai meu Deus!!! Agora é o meu fim!!! E a catinga aumentando... Então, já tonta e em completo desespero supliquei: “Oh! E agora, quem poderá me ajudar???”

Esperei, esperei e nada do Chapolin Colorado chegar com a máscara de gás... que decepção!!!!

Poxa! Tinha que colocar uma rolha na retaguarda do indivíduo. Será que esse elemento não tem mais pregas??? Pelas barbas do profeta!!! Isso é um perigo, pode matar uma pessoa.

Juro, eu já queria declarar a 3ª. Guerra Mundial e trucidar todo mundo naquele ônibus... Mas será o Benedito???

Depois que aquele “furdunço” abrandou... ou que nós nos acostumamos com a fedorama, no banco de trás um tiozinho começou a tossir desesperadamente, aquela tosse catarrada... que beleza!!!

Nem se eu tivesse tomado uma caixa inteira de Valium eu conseguiria dormir.

E se já não fosse suficiente, duas alemãezinhas começaram a tagarelar animadamente sobre um monte de bobagens!!! Às vezes, como fazem falta as bombas atômicas...

Parecia muito com esse aí...
Lá pelas duas da manhã paramos no meio do nada francês. Decidi ir ao banheiro... uma verdadeira aventura!!! Logo na primeira cabine tinha aquele buracão no chão que dizia: “Tente fazer pipi aqui... eu vou te pegar!!!”. Como fazer as necessidades naquilo??? Sorte que tinha o de deficientes. Fingi que estava mancando e marchei pra lá... eu é que não iria me arriscar a cair naquele buraco, já pensou que humilhação?!?

Chegamos a Tours 05h55min da manhã (acho que vou jogar no bicho: 55 no cavalooooooo!!!!), eu ainda torta de sono escuto aquela tão temida frase em alemão “Troca de balaio”... 

Nãoooooooooooooooooooooooooooooooo!!!

E pra carregar aquela porcariada toda?!? Nenhuma santa alma se prontificou a me ajudar... ninguém... ninguenzinho!!! Que dificuldade... No bagageiro já levei uma cotovelada no olho, que além de me acordar de vez, me fez pensar que tinha quebrado os óculos.

Depois todo mundo teve que ir ao Bureau pegar um cartão branco, e haja força pra carregar toda aquela tralha. Ordenei pra mim mesma: “Força na peruca humorista!!!”

Então começou a amanhecer e os passarinhos franceses cantando “piue, piue, piue...” com biquinho...

De repente um catarrento de uns seis anos fica preso no banheiro (aqueles que têm que colocar vinte centavos na fechadura para aliviar a natureza)... a mãe do moleque naquele desespero, fumando um cigarro atrás do outro, o fedelho gritando lá de dentro. Até escutei algo sobre Feuerwehr... Aquele circo!

Até que 15 minutos depois o guri resolve tentar abrir a porta por dentro (já que até então, ele só tinha tentado empurrar a porta), e como num passe de mágicas a porta se abre... Catarrento apronta cada uma...

O ônibus só foi sair as 07h09min da matina. Sentei novamente do lado de um marrocano, arabano ou turcano que tinha me acompanhado no primeiro balaio. Essa hora eu já estava caindo, literalmente, de sono e de dez em dez minutos acordava com a boca aberta... imagina a cena... eu dormindo com aquela bocona bem aberta e o marrocano ou sei lá o quê pensando... “nossa, não dava pra fechar a boca”... que cena!!!

Às 10h23min da manha passamos pelo 6° ou 7° pedágio do caminho (juro que já havia esquecido que eles existiam), e eu escutando o meu super-mega-hiper MP3 de 4 Gigas... aí eu escuto a frase do Chico Buarque “procurando bem todo mundo tem pereba, só a bailarina que não tem”, hahahaha... Lembrei da bailarina de Düsseldorf, será que ela tem pereba???

Para minha sorte, o ônibus parou em mais uma cidade no meio do nada e desceram mais alguns passageiros. Pude, então, ter duas poltronas só pra mim... que paraíso. Mas vocês sabem que pobre é fod... né? Só porque agora podia dormir com a bocona bem arreganhada... meu sono tinha ido embora... fiquei fula da vida.
Só me restou escutar música e admirar a paisagem, que em nada se parece com as Autobahn´s da Alemanha.

Última parada... Carrefour... me senti no Brasil. Depois que comprei um Powerade azul, para ver se melhorava o meu cansaço, voltei para o busão e constatei, tristemente, que minha retaguarda estava doída de tanto ficar sentada. A cada minuto ficava mais desesperada para sair daquela caixa de sapatos gigante. A cada placa de Toulouse, renovavam-se as minhas esperanças de sair daquela lata.

Um pouco depois um indiano que viajava no banco da frente começou a comer um sanduíche de salame. Aquele cheirão de salame invadindo a lotação. Descobri que estava faminta e que não tinha levado nada que prestasse para comer e aquele cheiro aumentando... quase pulei no salame do indiano...

O que eu diria? Mãos ao alto... eu vou seqüestrar o seu salame!!! A sorte é que eu sou chique e me controlei... caso contrário, a essa hora, o indiano já estaria sem salame!!!

Ás 14h42min o ônibus parou na Rodoviária de Toulouse... o Humorista estava lá me esperando... e finalmente pude deixar para trás pum´s, cof´s cof´s, bocas arreganhadas, seqüestro de salame e popôs doloridos...

Querido, cheguei!!!

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Um comentário:

Ellen Fidelis disse...

Adoreeeeei! suahusauhsa... quando vai começar a escrever um livro com estas aventuras???

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